Vivemos num tempo em que tudo é efémero e em que tudo acontece à velocidade da luz. A Justiça, um dos pilares de um qualquer estado democrático, não se pode deixar contagiar por tais parâmetros. A Justiça tem o seu tempo e o seu ritmo e não se pode pautar pelo tempo que não seja o seu próprio tempo; não se pode pautar pelo tempo dos media, pela pressão jornalística e pela fome sedenta da opinião pública. A Justiça deve ser imune a tudo isto sob pena de se comprometer a si própria.
Atravessamos um período singular no pós-25 de abril: se, por um lado, importa que a Justiça possa ser debatida e analisada sem receios, nunca em função de um caso concreto, importa também, por outro lado, que a mediatização da Justiça não sirva para se violarem os mais elementares direitos daqueles que a ela recorrem; a violação do segredo de justiça tornou-se regra, sobretudo nos casos judiciários que fazem as primeiras páginas dos jornais; o princípio da presunção da inocência é postergado todos os dias: em princípio o arguido é culpado, apressam-se os jornais; esboroa-se, assim, aquilo que tantos anos de vida em comunidade levaram a construir, uma Justiça digna desse nome, onde se respeitam os direitos dos cidadãos e onde estes são julgados onde têm que ser julgados, nos tribunais.
Importa também não confundir a floresta e a árvore; o que acontece com os “operadores judiciários” acontece com todas as demais profissões; não devemos fazer juízos de valor precipitados sobre um determinado caso concreto só porque, nesse sentido, vai o clamor da multidão; a Justiça deve ser prudente e ponderada; não nos podemos esquecer que a Justiça é uma deusa e, como deusa que é, está acima de todos nós; a figura da Justiça não é o que é por um qualquer desígnio estético: tem um profundo significado;
Por último não deixa de ser interessante a opção dos media no que toca a determinados casos “jornalísticos”: quantas páginas de jornais já encheu a operação Fizz ou a operação Lex? E quantos encheu o mui recente pacto da justiça? É esta visão sobre a Justiça que devemos combater, porque enquanto se venderem mais notícias sobre uma espécie de voyeurismo judiciário do que sobre as soluções construtivas do nosso edifício jurídico estamos a seguir o caminho errado.