A indústria do futebol movimenta, em todos os períodos de transferências, biliões de euros em compra e venda de jogadores.
Este ano, em Portugal, excecionalmente, o referido período teve início a 3 de agosto terminando a 6 de novembro de 2020. Como vem sendo habitual, os clubes optam por fazer ajustes nos seus plantéis, com contratações de novos jogadores face às necessidades dos mesmos e vendas de jogadores excedentários ou que acabam por ser aliciados com melhores propostas e projetos desportivos diferentes.
Contudo, como 2020 tem vindo a ser um ano totalmente distinto, também o mercado de transferências sofreu uma enorme quebra na sua globalidade. Foram gastos menos 1,6 mil milhões de euros a nível mundial, entre os clubes.
Este valor reflete, em parte, a pandemia que estamos a viver e a incerteza sobre o futuro. É certo que a atividade futebolística retomou, porém, vários foram os ajustes sofridos, que podem ainda não ter terminado. Os casos de covid-19 nos plantéis vão surgindo, principalmente pelo número de testes a que os jogadores estão sujeitos, e as equipas vêem-se obrigadas a ter jogadores fora da convocatória como se de uma lesão se tratasse.
A título de exemplo, e olhando para os três clubes em Portugal com maior capacidade financeira, o Benfica investiu quase cem milhões de euros, contrastando com a realidade de Porto e Sporting, que apenas gastaram cerca de vinte e três milhões e dezoito milhões, respetivamente. O poderio financeiro dos clubes portugueses – talvez com exceção do Benfica – tem vindo a descer drasticamente, apesar das vendas que vão sendo feitas por valores bastante significativos.
A maioria das fontes de receitas dos clubes foram mantidas, apesar de toda esta situação, com exceção da proveniente da comercialização de bilhetes e lugares anuais. Esta, que representava, em média, 15% da receita total dos clubes de futebol nacionais, encontra-se em queda livre, fruto do encerramento total dos estádios ao grande público.
Daqui há que retirar valiosas lições: A pandemia foi uma forma de os clubes compreenderem que as receitas são, de facto, voláteis e existe uma necessidade de contenção nos altos investimentos e a existência de fundos de maneio é fundamental para a subsistência dos clubes em situações inesperadas.
A título de curiosidade, os gastos com recursos humanos têm aumentado significativamente em todos os clubes. O investimento em quadros especializados, desde contabilísticos, fiscais, jurídicos e informáticos levam a que os clubes de futebol e as suas SAD enfrentem uma profissionalização tal que obriga a um investimento tão ou mais importante do que o investimento em jogadores/treinadores.
Esta profissionalização ultrapassa em larga escala a obrigatoriedade de a SAD ter, no mínimo, dois gestores executivos a tempo inteiro, prevista no artigo 15.º do Decreto-Lei 10/2013. Com a crescente profissionalização dos clubes de futebol e órgãos associados, esse número ascende atualmente às dezenas, demonstrando as mudanças verificadas no mercado ao longo dos últimos anos.
A crescente sofisticação dos clubes que hoje têm implementados procedimentos de controlo interno, práticas de boa governança e quadros mais especializados, tende a aproximá-los de um conceito mais empresarial, sendo este um facto essencial que não deve ser menosprezado na resposta a dar à crise causada pela pandemia.