Breve História da Utilização de Criptomoedas no Futebol
A utilização de criptomoedas nas aquisições e transferências de jogadores de futebol tem vindo a crescer desde a sua primeira utilização.
Em 2018, a criptomoeda Bitcoin era pela primeira vez utilizada por um clube de futebol na aquisição de um jogador: o Harunustaspor, clube amador da Turquia, pagou o equivalente em Bitcoin a 4.500,00 liras turca na contratação do jogador Ömer Faruk Kiroğlu, com o principal objetivo de aumentar a visibilidade deste clube na Turquia e globalmente.
Em 2021, a transferência do jogador David Barral para o Inter Madrid, clube da 2ª divisão espanhola, foi integralmente efetuada em Bitcoin.
Em 2022, o clube São Paulo adquiriu o jogador Giuliano Galoppo por 6 milhões de dólares pagos na stablecoin USDC. Como o clube brasileiro não possuía dólares para realizar esta aquisição, esta foi a solução apresentada pela Bitso, uma corretora de criptomoedas que patrocina este clube.
Outras Utilizações de Criptomoedas no Futebol
Além das transferências de jogadores, a utilização de criptomoedas está a ser explorada noutras áreas do futebol, nomeadamente na criação de fan tokens por clubes de futebol.
Estes tokens permitem aos fãs apoiarem as suas equipas de eleição pela aquisição desses tokens, sendo recompensados com merchandising do clube, bilhetes para jogos ou visitas ao estádio. Os detentores desses tokens podem também tomar decisões sobre o clube, como por exemplo a escolha do equipamento utilizado ou a música de entrada da equipa no estádio.
A plataforma Socios.com já lançou fan tokens para mais de 50 equipas de futebol. Em 2021, a transferência de Lionel Messi para o Paris Saint Germain incluiu um pagamento em tokens $PSG desta plataforma. O jogador Cristiano Ronaldo também recebeu nesse ano tokens $JUV da Juventus para celebrar o marco de 761 golos na sua carreira.
Nota-se também um crescente interesse em corretoras de criptomoedas em patrocinar clubes de futebol. Em 2024, a Kraken, uma corretora de criptomoedas, tornou-se um dos patrocinadores oficiais dos clubes Tottenham Hotspur e do Atlético de Madrid.
E não é só no futebol que estão a ser utilizadas criptomoedas. Em 2020, o atleta Russel Okung, jogador na NFL, recebeu metade do seu contrato de 13 milhões de dólares em Bitcoin.
Vantagens da Utilização de Criptomoedas
As transferências de jogadores de futebol envolvem quantias monetárias avultadas, que têm sido movimentadas através do sistema bancário tradicional.
Contudo, estes métodos podem ser lentos, envolverem comissões elevadas e, por vezes, pouco transparentes. As transações internacionais, em particular, podem sofrer atrasos significativos devido à necessidade de conversão de moedas e outras exigências regulatórias e bancárias.
As comissões associadas às transferências de criptomoedas podem ser menores do que as dos sistemas bancários tradicionais e têm também como vantagem o facto destes ativos digitais não obedecerem a nenhum horário de transação, pelo que os pagamentos podem ser realizados a qualquer momento. Isto facilita as transações internacionais, eliminando a necessidade de conversões cambiais.
As transações de criptomoedas ficam registadas numa blockchain, reduzindo o risco de fraude e aumentando a confiança nas negociações para todas as partes envolvidas.
Desafios na Utilização de Criptomoedas
Embora o interesse na utilização de criptomoedas no futebol esteja a crescer, a sua aceitação está longe de ser universal. Nem todos os clubes, agentes e jogadores estão dispostos ou têm a capacidade de realizar transações em moedas digitais.
Para além disso, o enquadramento regulatório e fiscal das criptomoedas ainda não se encontra totalmente definido em diversas jurisdições, pelo que a sua utilização pode ser considerada demasiado arriscada, principalmente por obrigações contabilísticas e de reporte que têm de ser cumpridas pelos clubes de futebol nos seus países de origem.
As criptomoedas são também bastante voláteis, pelo que o seu valor pode flutuar significativamente num curto período de tempo. A utilização de stablecoins, criptomoedas atreladas a um outro ativo, como seja o dólar, poderá mitigar este risco.
Conclusão
As criptomoedas podem ter o potencial de transformar, no futuro, as transferências de jogadores de futebol, oferecendo uma alternativa mais eficiente aos métodos de transferências tradicionais. No entanto, a volatilidade, a falta de regulamentação e o desconhecimento das suas vantagens e desvantagens e de como realizar estas transações podem ser obstáculos significativos que impeçam a sua utilização a larga escala.
A utilização de criptomoedas, nas suas várias formas, por jogadores e clubes das principais ligas do futebol mundial parecem poder influenciar positivamente outros clubes e jogadores a estarem mais recetivos a explorarem quais as formas de utilização de criptomoedas no futebol. Assim, os próximos anos serão cruciais para determinar o impacto das criptomoedas a longo prazo no futebol e noutros desportos.
por Inês Bragança Gaspar, Área de Prática – Desporto, Moda e Entretenimento