As operações de fusões e aquisições (M&A) assumem um papel cada vez mais central na estratégia de crescimento e internacionalização dos clubes de futebol portugueses. O crescente interesse em clubes de futebol portugueses por parte de investidores, tanto nacionais como estrangeiros, é potenciado pelo reconhecimento dos clubes portugueses e projeção internacional dos seus jogadores.
Neste contexto, cada vez mais investidores provenientes dos 4 cantos do globo têm vindo a identificar o mercado português como uma oportunidade de investimento, com grande potencial de valorização a médio e longo prazo, por diversas razões, nas quais se destacam:
- Custo-Benefício Atrativo: Quando comparada com outras ligas europeias de topo, a liga portuguesa tem um custo de investimento geralmente mais reduzido.
- Valorização do Talento: Portugal é reconhecido mundialmente como um powerhouse de formação de talentos futebolísticos, o que atrai investidores interessados em potenciar equipas em formação e camadas juniores.
- Exposição Europeia e Mundial: Os clubes portugueses participam regularmente em competições europeias como a Liga dos Campeões e Liga Europa, ou mais recentemente no Mundial de Clubes, que contou com a participação do Futebol Clube do Porto e do Sport Lisboa e Benfica, conferindo-lhes uma grande visibilidade internacional. Ademais, cada vez mais jogadores portugueses jogam em ligas estrangeiras, através de transferências de grande valor. Das 5 transferências de maior valor do ano de 2024[1], duas referem-se a jogadores portugueses Gonçalo Ramos e João Neves, que transitaram do Benfica para o Paris Saint-Germain.
Os potenciais investidores em clubes de futebol devem estar a par do Regime Jurídico das Sociedades Desportivas (Lei n.º 39/2023, de 4 de agosto), que define as formas societárias admissíveis de sociedades desportivas, estabelece limites à participação social, nomeadamente um limite mínimo da participação social do clube fundador, e impõe requisitos de transparência e idoneidade aos investidores. Para além deste diploma, acrescem as exigências regulatórias da Federação Portuguesa de Futebol e da FIFA, nomeadamente no que toca a exigências de aprovação prévia de alterações relevantes na estrutura acionista para efeitos de licenciamento desportivo, bem como restrições à influência de terceiros nos clubes e nos direitos económicos dos jogadores (designados como Third-Party Influence e Third-Party Ownership).
Em termos de modelos e estruturas de investimento, as principais tendências parecem ser a entrada de fundos de private equity especializados em desporto nas Sociedades Anónimas Desportivas (“SAD”), a adoção de modelos de multi-club ownership, em que um mesmo investidor detém participações sociais em vários clubes, muitas vezes em diferentes países, e a opção por operações estruturadas como asset deals em vez de share deals, permitindo adquirir ativos estratégicos — como marcas, centros de treino ou direitos económicos dos jogadores – ao invés de participações sociais nas SADs.
Em particular, o sistema de multi-club ownership, que permite a otimização de recursos, partilha de conhecimento técnico e facilitação de transferências de jogadores entre clubes, tem crescido no nosso país – no final de 2024, um total de 15 clubes de futebol portugueses operavam segundo este modelo[2].
O ano de 2025 já assistiu a diversas operações de aquisição de relevo no mundo do futebol português, como a aquisição de uma participação maioritária no Amora Futebol Clube – Futebol, SAD pelo fundo de investimentos brasileiro Orla[3], o investimento do jogador Vinícius Júnior no FC Alverca Futebol SAD, a aquisição pelo Elite Management and Administration Group de Espanha de uma participação maioritária na SAD do Tondela ou a aquisição do Associação Desportiva Sanjoanense – Futebol SAD pela AMCNO – Proyectos Y Inversiones, da Colômbia[4].
A perspetiva para o futuro será o de crescimento contínuo destas operações de M&A, impulsionado pelo apetite internacional e pela necessidade dos clubes de reforçarem a sua competitividade, quer em termos desportivos quer de gestão. O Anuário do Futebol Profissional Português, produzido pela EY e pela Liga Portugal, dá nota que na época de 2023/2024, “a Liga Portugal registou o 9.º ano de resultados positivos e as Sociedades Desportivas alcançaram 1.073 milhões de euros de receitas, ultrapassando a marca de um milhar de milhão pela primeira vez”[5].
A expectativa é que o volume de receitas do futebol português continue a aumentar nos próximos anos, o que atrairá mais potenciais investidores e oportunidades de negócios. As operações de M&A estão longe de ser apenas um exercício financeiro, tratando-se de um “jogo” complexo onde se cruzam leis e regulamentos rigorosas, estratégias empresariais sofisticadas e a componente emocional única que o desporto proporciona, tendo em vista a vitória dentro e fora do relvado.
por Ricardo Cardoso e Inês Bragança Gaspar, Área de Prática – Desporto, Moda e Entretenimento
[1] Global-Transfer-Report-2024.pdf
[2] Investing in Portuguese football: a prime spot for Multi-Club Ownership? – Football Benchmark
[3] Fundo de brasileiros compra clube de futebol português | Negócios | pipelinevalor
[4] Transações de M&A em Portugal no 1ºT 2025 – Omnium
[5] Receitas das Sociedades Desportivas Ultrapassam pela Primeira Vez Os €1.000 Milhões em Ano Recorde de Emprego e Adeptos no Estádio | Portugal